Muitas pessoas já ouviram falar em altas habilidades ou superdotação, mas ainda existem muitas dúvidas e até preconceitos em torno desse tema. Embora as políticas públicas de inclusão tenham avançado nos últimos anos, na prática o atendimento especializado ainda é raro. Pesquisas recentes mostram que esse público continua invisível em muitas escolas e até no ensino superior, e que ainda há grande distância entre teoria e prática quando falamos em apoio educacional.
Quando pensamos em uma pessoa com altas habilidades, é comum vir a ideia de alguém que se destaca apenas no contexto acadêmico. Mas essa visão é limitada. As altas habilidades podem aparecer em diferentes áreas, como música, artes, esportes, liderança, criatividade, entre outras, e não se restringem ao desempenho escolar tradicional.
Cada pessoa com esse perfil tem um jeito único de aprender e de se relacionar com o mundo. Algumas aprendem muito rápido, outras demonstram grande interesse por um tema específico, e muitas apresentam uma sensibilidade emocional acima da média. Também é comum que apresentem diferenças entre o que conseguem fazer intelectualmente e a forma como lidam com as emoções ou com a escola, o que chamamos de assincronismo.
Um dos grandes problemas é a quantidade de mitos que cercam o assunto. Muitas pessoas acreditam, por exemplo, que altas habilidades podem ser medidas apenas pelo QI, o que não é verdade. Outras pensam que identificar uma criança como superdotada pode “rotulá-la” de forma negativa. Na realidade, a identificação é importante justamente para que ela receba apoio adequado e possa se desenvolver bem.
Outro mito comum é acreditar que a criança com altas habilidades não deve ser informada sobre sua condição. Ocorre que muitas vezes ela já percebe que aprende de forma diferente dos colegas e, se não recebe explicações, pode sentir que há “algo de errado” consigo mesma. Também existe a falsa ideia de que essas crianças são “melhores” do que as outras. Não se trata de superioridade, mas de diferenças que precisam ser reconhecidas e respeitadas.
As altas habilidades/superdotação não são um diagnóstico, mas sim um perfil que descreve potenciais e formas diferenciadas de aprender e interagir com o mundo. No entanto, muitas vezes esse perfil pode ser confundido com outros quadros clínicos ou condições, como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), transtornos de ansiedade, Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou transtornos de aprendizagem. Também é comum que seja visto apenas como precocidade, o que reduz sua complexidade.
Essa confusão acontece porque algumas características, como interesses intensos, sensibilidade emocional, assincronismo entre áreas do desenvolvimento ou até a coexistência de comportamentos infantis com raciocínio avançado, podem se assemelhar a sinais de outros diagnósticos. Por isso, a avaliação especializada é fundamental para diferenciar quando se trata de um perfil de altas habilidades, de um quadro clínico ou até da combinação entre ambos.
É importante lembrar: uma criança pode ter altas habilidades e, ao mesmo tempo, apresentar um diagnóstico clínico associado. Reconhecer essa possibilidade evita rótulos equivocados e ajuda a construir um caminho de desenvolvimento mais saudável e equilibrado.
Por tudo isso, é fundamental ampliar o conhecimento sobre o tema. Professores, famílias e a sociedade precisam compreender que não existe uma única característica que defina uma pessoa com altas habilidades. Elas são diversas, com talentos, dificuldades e formas de aprender próprias.
Mais do que identificar, é preciso oferecer oportunidades para que desenvolvam seus potenciais de forma saudável, sem cobranças exageradas, mas também sem negar suas diferenças. Isso inclui práticas pedagógicas diferenciadas, currículos inclusivos e formação adequada de professores. Com isso, damos um passo importante para que essas pessoas deixem de ser invisíveis e possam exercer plenamente seus direitos.
Se você é pai, mãe ou familiar e percebe em seu filho características que podem indicar altas habilidades, saiba que buscar informação e orientação profissional é um passo essencial. O reconhecimento não é um rótulo, mas uma forma de apoiar o desenvolvimento integral da criança, garantindo que ela cresça confiante, valorizada e compreendida em sua singularidade.